sábado, 30 de janeiro de 2016

SOBRE RITMO DE JOGO (II) E PLANEJAMENTO DE SISTEMAS DEFENSIVOS

Como prometi no post passado, sairia do plano puramente teórico para mostrar algumas sugestões que se relacionam com o ritmo de jogo para situações reais de jogo. São ideias mais vinculadas ao lado estratégico do futebol, diria, algumas possíveis soluções que sua equipe poderia vir a oferecer para determinados confrontos específicos. Para esse post falarei de planejamento de sistemas defensivos para uma partida:


Estrategia defensiva levando em conta o ritmo de jogo


Na hora de planejar um confronto, alguns (diria muitos ate) gostam de priorizar a observação do adversário com enfoque de observar os pontos fortes do rival. Com claro objetivo de anula-los (ou ameniza-los ao menos), os treinadores pensam em quais mecanismos ele vai reforçar dentro do seu modelo que facilitem que esse objetivo seja cumprido. Nessas horas, entra a importância do analista (que até pode ser o próprio treinador), identificando esses comportamentos no rival e avaliando como isso pode se aplicar a realidade de nossa equipe. Porem, muitos ignoram essa variável que estamos estudando nesse texto: a velocidade do jogo.

Vamos avaliar primeiro a nível micro: uma ação individual de pressionar o portador da bola busca reduzir o espaço do mesmo. Isso tende a forcar um certo aumento instantâneo no ritmo do rival, já que, alem de forcar o adversário a tomar decisões mais rápidas, essa ação de sair da posição para reduzir gera um pequeno desequilíbrio local na estrutura da sua equipe e, naturalmente, isso cria uma consequência no adversário em tentar explorar esse espaço o mais rápido possível.

Porem, ninguém joga sozinho. O adversário pressionado possui companheiros oferecendo linhas de passe em diversas direções (em apoio, em profundidade, de retorno...), e isso possibilita que com um passe ele consiga se livrar da pressão individual que o afetava e assim “consiga” determinar o ritmo que a bola vai ter. Em compensação, esse mesmo homem da marcação possui parceiros que dão cobertura exatamente para evitar que esse segundo adversário, que hipoteticamente recebeu o passe, consiga ter mais espaço para controlar a velocidade do jogo.

Na imagem a esquerda, foco na ação de pressão. Ela busca acelerar a ação do portador da bola, enquanto as opções de passe do adversário visam manter o controle do ritmo da partida. Ja a direita, englobamos as ações de cobertura ao homem que pressionou anteriormente e como visam evitar que o adversário mantenha esse controle do ritmo, fazendo uma nova pressão ao novo portador, buscando acelerar as ações naquele local.

Agora vamos a outro caso. Um jogador meu simplesmente exerce a contenção sobre o adversário, sem pressiona-lo. Ele mantem uma certa distancia a ponto de não pressionar o rival e se move numa velocidade de modo a não gerar tanto desequilíbrio na estrutura da sua equipe. Com isso, o portador tem tempo-espaço para controlar o ritmo a seu modo, porem minha equipe se encontra bem organizada, com objetivo de deixar o jogo mais lento. Ele (o dono da posse) pode resolver acelerar a circulação/progressão de forma a tentar gerar um desequilíbrio em meu sistema, manter a posse para manter/reduzir o ritmo, pode reter a bola sobre seu domínio para esperar melhor colocação de seus companheiros e pensar melhor a partida....

Nesse vídeo abaixo podemos observar essas situações nas jogadas mostradas. Observe como o Stoke busca acelerar a sua circulação e a boa coesão da equipe do Liverpool consegue muitas vezes frear essa tentativa de deixar o jogo em rotação mais alta. Mire os confrontos entre jogador com a bola e defensor direto e avalie como eles estão buscando modificar o ritmo da partida. Avalie o contexto no entorno deles e como o mesmo favorece para a ação de acelerar/reduzir.

Créditos: Valter Nascimento

Desenvolvi essa abstração geral para introduzir algumas coisas que muitos treinadores (não disse todos, muito menos disse que era maioria) levam em conta na hora de se planejar defensivamente. Conceitos como equilíbrio, zonas de pressão, direcionamento/indução, vigilância e temporização (principalmente) estão diretamente relacionados com a velocidade que o confronto toma. Abaixo, uma mostra das zonas de pressão feitas pelo próprio Liverpool nesse jogo contra o Stoke

Zonas de pressão do Liverpool numa partida contra o Stoke. Créditos: Valter Nascimento

Penso que o planejamento defensivo (*obs ao final do post) passa por três situações: aonde pretendo roubar a bola (criação de zonas de pressão), quais espaços vou prioritariamente proteger (onde buscarei me manter compacto e para onde evitarei direcionar o jogo) e quais jogadores do adversário eu quero desativar (desativar diga-se colocar em situações não vantajosas ou então induzir o adversário a não encontrar passe para esse jogador). E como farei (pensando no contexto do confronto) para que meus planos para esses três aspectos fiquem fáceis de acontecer.

Gosto de tomar uma seguinte linha de raciocínio: se tenho um adversário que se sente confortável a atacar num ritmo mais alto, eu devo fazer de tudo para que o jogo se desenvolva num ritmo mais baixo. Fazer com que a partida corra numa velocidade que os jogadores rivais não se sentem confortáveis e os meus confortáveis deve ser objetivo meu. Logo, ações que visem manter o equilíbrio estrutural da equipe, mantendo a distancia de relação entre os jogadores menor; exercer contenções que venham a direcionar passes do adversário para zonas de pouco perigo, dentre outros são boas ideias para reduzir o ritmo de circulação da equipe. Ate o velho recurso da falta é muitas vezes utilizado pensando nisso

O inverso também é valido. Equipes que gostam de atacar mais pausado poderiam ser levadas pela nossa equipe a jogar um jogo mais veloz que muitas vezes não esta acostumada. Acoes de pressing, reduzindo espaço; ou ate mesmo ter a bola no campo deles, forcando um jogo de contra-ataque no qual não são tao fortes, são possíveis sugestões interessantes. Lembrando que o planejamento defensivo tem que estar atrelado ao ofensivo e os momentos de transição idem. O jogo é fluido!

Abaixo, uma analise de Jed Davies mostrando um Liverpool (em contexto diferente) que claramente buscava acelerar o jogo de um Manchester City, que se sentia mais confortável a ritmos menores.


Nas transições ataque-defesa por exemplo, uma equipe que prioriza reestabelecer o bloco defensivo visa retardar as ações de contra-ataque do rival. Já um time que visa recuperar a bola logo, busca acelerar as ações do adversário que recem recuperou a posse. Nesse próximo vídeo, veremos mostras de transição defensiva do Atletico de Madrid, em que englobam as situaçoes citadas.

Créditos: Futbolscouting

Nao podemos ignorar as trocas de ritmo, ate porque nenhuma equipe joga numa mesma velocidade o tempo todo. Elas ajudam a poupar energia da sua equipe, ajudam a restabelecer equilíbrio em momentos de desequilíbrio próprio, cansam/desconcentram rivais, gerando desequilíbrios neles interessantes, dentre outros efeitos. Avaliar aonde, quando e como cada equipe gosta de acelerar, reduzir, quem o faz na equipe e etc., são aspectos importantes a se analisar na hora de planejar um jogo.

Ha outras variáveis do confronto a se observar. O clima, o gramado, o fato de ser casa-fora, a situação atual do campeonato, todas influenciam no ritmo a ser aplicado. Acho que durante a partida, uma das coisas que mais afeta nisso também é o placar momentâneo. Um time que esta ganhando tende a reduzir o ritmo, enquanto o que esta perdendo tende a acelerar suas acoes. O Barcelona de Pep era um que conseguia usar a posse como ferramenta defensiva em momentos que estava a frente do placar.


Créditos: pensandoojogo

Deixando bem claro que são tendencias. Nao existe regra fixa para determinar circunstancias num fenômeno tao complexo como o futebol. A ideia é levantar essa variável para ser analisada mais a fundo e entender suas aplicações dentro da realidade do jogo. No próximo post, discutirei sobre ritmo x planejamento ofensivo. Abraços!

(*) Obviamente, nem sempre o que se é planejado acaba sendo bem executado em campo. Mas quando uma equipe inteira trabalha junta CONSCIENTEMENTE para condicionar o jogo a seu gosto, ela tende a ter mais controle. Estimular isso no processo de treino, fazendo seus jogadores serem expostos a contextos diferentes que impliquem em ritmos diferentes; incentivar com questionamentos sobre qual velocidade de jogo é melhor de se ter numa certa circunstancia e somar ideias relacionadas a isso em seus feedbacks são coisas de extrema importância para que os futebolistas consigam se habituar a observar isso, ganhando mais repertorio para manipular melhor essa variável.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Sobre ritmo de jogo (I)

Nessa semana, como ja havia dito em minha página, vou buscar desenvolver um aspecto do jogo de futebol que é de certa forma intuitivo, mas que é pouco discutido mais a fundo:

O RITMO DE JOGO

Fonte: IBC Coaching

Ritmo de jogo é um conceito que normalmente está muito associado a velocidade das ações em um determinado momento de uma partida. Cada circunstância ocorrida dentro de uma partida tende a ocorrer numa certa rapidez dependendo de como ela se desenvolve. E sua acurácia está vinculada ao "timing" que essas respectivas ações foram executadas.

Muitos atualmente acreditam que o jogo tem que ficar cada vez mais acelerado e que jogadores que não se adequam a isso não tem mais vaga no futebol atual. Questiono bastante essa afirmação, tendo em vista que em n momentos a pausa pode ser interessante. Defendo mais a posição de que é a nossa equipe que deve controlar o tempo, tomando ações coletivas e individuais em prol disso para poder dominar o adversário. Se quero desacelerar o jogo em um determinado instante, que eu consiga fazer com que a circunstancia fique desacelerada. E tudo tem que ter um propósito dentro do seu jeito de jogar para que a ideia de desacelerar aconteça.

VELOCIDADE DO JOGO X ACERTO

Muitos consideram como ideal o tal equilíbrio por velocidade x acerto das jogadas. Vejo que o jogo não tem essa natureza linear que muitos tem na cabeça. Logo acreditar que almejaremos a máxima velocidade sob a maxima eficiencia é uma espécie de utopia. Há de saber lidar com a realidade. A tendencia de um jogo mais veloz é que ocorram mais erros por falhas de concentração natuais, assim como um jogo mais pausado tende a ajudar num maior acerto das ações, porém essa boa circunstancia tende a ocorrer poucas vezes devido as condições de dificuldade que os adversários nos impõem (pressão no portador da bola, pressing, etc.). 

Saber gerir onde e quando acelerar, onde e quando pausar, são situações que o próprio jogo te exige. Ter isso bem definido dentro da estratégia para uma partida é essencial e para isso deve-se conhecer como seus jogadores tendem a impor ritmo na partida e como os adversarios reagem a essas mudanças e vice-versa. Deve-se perceber também a reação da equipe como um todo a uma determinada velocidade do jogo exigida.

EQUIPES X RITMO

O ritmo é algo que deve ser avaliado no âmbito coletivo e individual. Vamos ao primeiro. Instruir uma equipe a acelerar o jogo no seu todo pode facilitar na hora de explorar espaços num adversário, mas ao mesmo tempo pode induzi-la a erros e a possíveis espaços no momento defensivo seguinte a serem explorados. Assim como um time que reduz o ritmo pode almejar maior acurácia nas suas ações, juntando mais a sua equipe, porém pode ter mais dificuldades de criar espaços e progredir. Atingir esse equilíbrio, sabendo muda-lo no tempo certo ajuda para evitar um maior desgaste e conseguir dominar o adversário

Vou deixar um vídeo editado por Gonzalo Escudero que mostrou um confronto entre Barcelona e Real. Quando que as equipes buscaram acelerar o jogo com a bola? E as equipes sem bola, que ritmo estavam buscando impor no jogo? Perguntas que responderei ao longo da semana:


JOGADORES X RITMO

Como o futebol é dos jogadores, são eles que determinam de que forma o tempo correrá dentro das partidas. Tomando decisões técnicas, como: reter a bola, esperar uns microssegundos para dar um passe; eles conseguem controlar a velocidade do jogo a seu gosto. Uns tendem a reagir melhor a situações de rotação mais alta, já outros preferem reduzir o ritmo para que o jogo ocorra no seu tempo. 

Um jogador que goste de partir para cima em situações de 1x1 tende a fazer o jogo ficar mais rápido quando a bola fica sob seus pés. Já um jogador que goste de reter a bola, controlá-la tende a fazer o jogo ficar mais lento no seu entorno. Dois exemplos simples que ajudam a exemplificar isso, mas que não o definem por completo. N variáveis devem ser analisadas:

- Quanto tempo o jogador fica com a bola nos pés quando a recebe? Como a controla/a recebe?

- Sob que velocidade esse jogador conduz a bola?

- Em que momento o jogador busca realizar os seus passes? Como isso influencia na velocidade do jogo?

- Em que situações o jogador muda o ritmo quando possui a bola? Por que?

- Que tipos de movimento sem bola esse jogador tende a fazer de forma a acelerar/reduzir a velocidade do jogo?

- Com que velocidade ele reage quando sua equipe perde a bola? O que ele busca fazer?

- Como esse jogador reage a situações de pressão (quando o adversario está buscando acelerar o seu ritmo)?

- Esse jogador busca pressionar adversários ou realiza somente contenção?

- Em situações de 1x1 defensivo, esse jogador consegue retardar movimentos de seu oponente?

- E quando a equipe recupera? Que ritmo ele tende a se encontrar nos momentos seguintes da recuperação?

São algumas das perguntas a se fazer na hora de avaliar um jogador sob essa perspectiva. É importante ter isso dominado, até para poder encaixá-lo de modo que suas características sejam melhor exploradas fazendo sua equipe ganhar vantagem com isso.

Agora reveja o vídeo anterior observando esses aspectos. Como cada jogador influenciou na velocidade do jogo? Que ações que o jogador realizou e que vieram a acelerar/reduzir o confronto? Que efeitos isso gerou no adversário e na sua equipe?

Enquanto isso, observemos um pouco de um dos maiores controladores de ritmo da história: Xavi Hernandez.


Já nesse, recomendo avaliar um pouco a Douglas Costa, jogador que faz com que cada toque na bola seu seja sinônimo de acelerar o seu entorno:


Tudo o que eu falei até agora foi bem vago, mas que ajuda a entender os próximos posts, quando colocarei situações práticas disso. Falarei sobre ideias para defender equipes que jogam sob um ritmo alto, ideias para atacar equipes que tentam impor um ritmo baixo no jogo, como pensar num possivel encaixe para jogadores que se sentem mais confortaveis em ritmos diferentes. Sairei desse plano teórico chato para ir para a prática. Abraços!

domingo, 6 de setembro de 2015

Futebol: um fenômeno (nem um pouco) simples de se analisar

Muito se ouve por aí da boca do povo que "o futebol é simples", que "complicam demais um jogo que não tem mistério", etc. Quando alguém busca analisar o fenômeno futebol sob outras perspectivas além do que a "imprensa especializada" faz, esse cidadão é tratado como um E.T, um "professor pardal", um louco. Tem também quem olhe para essa pessoa como pedante, como "tentando mostrar que sabe mais", como "inventor de teoria" (já ouvi disso tudo por aí...).

Quantas vezes não ouvimos aquele torcedor corneteiro que fala com "grande experiencia de peladas e jogos vistos no Maracanã", que o "futebol não tem mistério"? Fonte: Flatos de um Flamenguista


Estimulado pela leitura que venho fazendo do livro do ótimo teórico português Jorge Castelo "Futebol: A organização do Jogo", convido os leitores desse post a uma reflexão que pouco fazemos: 

Como podemos definir um JOGO DE FUTEBOL?

Uma boa definição seria: "22 jogadores distribuídos num espaço restrito em duas equipes de 11 jogadores, com o objetivo de fazer mais gols que o conjunto adversário." Sendo gol, "a ação de colocar a bola com qualquer parte do corpo (excluindo os braços e as mãos) numa baliza situada no centro das linhas de menor dimensão do retângulo."

Só nesse parágrafo anterior, citei alguns dos principais elementos visíveis que definem o jogo:

- Os 22 jogadores divididos em 2 equipes de 11.
- O espaço de jogo
- A bola

Nesse flagrante do Painel Tático, blog do bom analista Leonardo Miranda, podemos ver a grande maioria dos jogadores, o espaço (terreno do jogo) e a bola sendo lançada.

Pensemos. São 22 indivíduos, cada um com suas particularidades, que se movem e tomam decisões em torno de uma bola dentro de um espaço delimitado. Eles se relacionam entre si tanto no sentido de cooperação (com sua equipe), como no sentido de oposição (com o adversário). Além da relação entre os jogadores, há a relação deles com o ambiente no seu entorno (espaço, bola, etc.) e seu respectivo contexto (situação no campeonato, tipo de jogo, etc.) que não podem ser ignorados.

E existem quatro componentes básicas reconhecíveis que essas relações do jogo citadas anteriormente exigem nas ações que ocorrem numa partida:

- FÍSICA: Demandas/respostas que o corpo do jogador sofre/dá para as situações de jogo
- TÉCNICA: Gestos motores permitidos pela regra do jogo utilizados para a resolução de problemas que o contexto oferece
- TÁTICA: Que se diz respeito a função que o individuo tem dentro da estrategia de sua equipe para otimizar/facilitar as resoluções dos problemas que são submetidos
- PSICOLÓGICA: Como o lado emocional influencia na resolução das situações de jogo

Fonte: Slide de Periodização Tática do professor José Guilherme Oliveira

Logo, analisar qualquer fato/ação do jogo ignorando a coexistência desses 4 fatores citados acima é descaracterizar completamente a realidade que o futebol possui por si só. E é o que mais vemos por aí na imprensa esportiva. Quantas vezes comentaristas atrelaram más atuações de um determinado jogador dando como explicação isolada a "falta de forma física", ou "não estava num bom dia tecnicamente", "foi mal escalado", "estava nervoso", etc. Esses argumentos citados até influenciam na situação, mas usa-los isoladamente, na grande maioria das vezes, mascara o que realmente aconteceu.

Ou então, quantas vezes já se viu pessoas quererem "analisar uma equipe taticamente" simplesmente discutindo a estrutura utilizada pela equipe? 4-3-3's, 4-4-2's, 3-5-2's são auxílios didáticos para se entender o posicionamento e facilitar observações, mas eles nunca podem ser priorizados, deixando em segundo plano o que é de fato importante: a análise dos mecanismos utilizados pela mesma equipe para os contextos que o jogo lhe ofereceu.

Do post do Vasco x Fluminense do início do ano. Reconhecer as estruturas só para servir de recurso didático! Explicar o que aconteceu contextualizando as ações é muito mais importante!

Fugir do pensamento reducionista, que ainda domina o processo de educação das escolas, é um desafio para um analista de futebol. Com o tempo, percebeu-se que o todo (jogo) é maior que a soma das partes (tática, técnica, física, psicológica), portanto, analisar cada pedaço separado é ignorar completamente as relações entre eles. Pensar de forma sistêmica não é fácil e requer muita prática.

O PENSAMENTO SISTÊMICO E O FUTEBOL. COMO RELACIONAR? 

O pensamento sistêmico é uma nova forma de abordar a análise de um fenômeno sobre a perspectiva da complexidade. Larga-se a fixação de analisar fatores de forma fragmentada para analisar as relações entre essas componentes.
Se formos pensar em todas as combinações de relações entre os elementos que compõem um jogo de futebol, temos:

- A relação de um JOGADOR com seu COMPANHEIRO DE EQUIPE
- A relação de um JOGADOR com a sua EQUIPE
- A relação de um JOGADOR com o JOGADOR ADVERSÁRIO
- A relação de um JOGADOR com a EQUIPE ADVERSÁRIA
- A relação de um JOGADOR com a BOLA
- A relação de um JOGADOR com o ESPAÇO
- A relação EQUIPE com um JOGADOR ADVERSÁRIO
- A relação EQUIPE com a EQUIPE ADVERSÁRIA
- A relação EQUIPE com o ESPAÇO
- A relação EQUIPE com a BOLA
... dentre outras infinitas, nunca se esquecendo de analisar sob a perspectiva das quatro componentes básicas do jogo (tática, técnica, física e psicológica)

Fonte: Exotherica

Enfim, se eu for citar todas as relações existentes dentro de um jogo de futebol, eu perderia muitas linhas desse texto e você leitor, encheria o seu saco lendo (se já não estou...).

É de extrema importância levar essas relações em conta na hora de fazer uma análise. Entender que jogador, através de seus recursos, dificultou mais o planejamento coletivo do adversário e como este mesmo reagiu, compreender como o contexto coletivo da equipe e seus respectivos mecanismos influenciaram na atuação de um jogador, ler quais comportamentos coletivos de um time dificultaram a ideia de jogo do rival, dentre diversas outras relações, ajudam a entender muito o porque dos fatos do jogo terem acontecidos do jeito que ocorreram.

Passada essa discussão filosófica maluca, fica um questionamento indireto (mas ao mesmo tempo muito direto) ao tio corneteiro do início do post:

COMO ALGUÉM AINDA OUSA DIZER QUE O "FUTEBOL É SIMPLES", TENDO ESSA INFINIDADE DE RELAÇÕES CITADAS ACIMA INFLUENCIANDO NOS ACONTECIMENTOS DE UMA PARTIDA???????

Sendo assim podemos definir o jogo de futebol como fenômeno em algumas características básicas:

- COMPLEXO: Por ser um fenômeno que se compõe de vários elementos que mantem relações (algumas citadas acima) de interdependência

- DINÂMICO: O jogo de futebol evolui no tempo com um comportamento desequilibrado, onde uma jogada que virá a ocorrer depois é extremamente dependente do que aconteceu anteriormente, e pode ser mudada radicalmente a partir de pequenos estímulos na jogada que está acontecendo agora.

- ALEATÓRIO: Porque os eventos ocorridos em cada momento de uma partida dependem da ação de cada um dos 22 jogadores, sendo assim exclusivamente ligados a interpretações aleatórias que esses jogadores podem ter e imprevisíveis, devido a infinidade de possibilidades de decisões a serem tomadas.

"SE É TÃO COMPLEXO COMO VOCÊ DIZ, ENTÃO COMO É POSSÍVEL ANALISAR UM JOGO DE FUTEBOL?"

Existe uma grande diferença entre ser complexo e ser difícil. Complexidade é relacionado a abrangência de elementos que compõem um fenômeno e suas relações, enquanto dificuldade está diretamente relacionada a barreiras que impedem de se fazer algo. Modelar o comportamento dos sistemas (indivíduos, setores de uma equipe, equipes) a partir da elaboração de conceitos que norteiam o jogo (princípios fundamentais e estruturais do jogo, ações técnico-táticas coletivas e individuais, etc.) foi o desafio de muitos teóricos do mundo do futebol e que será discutido num próximo post ainda nessa semana. Abraços!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

REFLEXÕES SOBRE O ESPAÇO DE JOGO (I)

No futebol, possuímos três variáveis físicas que podemos considerar vitais para o jogo. Duas delas são de caráter dinâmico (a bola e os jogadores) e uma delas é de caráter estático (o campo de jogo). 22 jogadores (10 de linha e 1 no gol para cada lado), uma bola, que fica sob a posse de 1 dos 22 indivíduos e um campo com duas balizas definem um jogo. O texto de hoje refletirá algumas situações que giram em torno da variável estática CAMPO.

O campo de jogo é o espaço onde ocorre a partida de futebol. Ele possui dimensões regulamentadas pela FIFA, padronizando distâncias entre as linhas tradicionais. Na imagem abaixo, temos as dimensões mínimas e máximas que o órgão optou por regimentar:

Fonte: celsojunior.net

Outra convenção é a que o espaço na qual vivemos possui três dimensões: comprimento, largura e altura. Para a nossa análise levaremos mais em conta as duas primeiras citadas, já que os jogadores se movem majoritariamente no plano xy (comprimento x largura).

Passadas essas convenções físicas iniciais, vamos ao que interessa: falar de futebol. O espaço de jogo é de extrema importância para o planejamento e tomada de decisão de todos os indivíduos que se envolvem na partida, sejam eles atuantes (os jogadores) ou não-atuantes (os treinadores), já que é nele que as coisas acontecem. É a relação das variáveis físicas (espaço-jogador-bola) com as variáveis não físicas (regras, atmosfera do jogo, etc.) que definem os pontos a serem levados em conta na hora de se moldar um modelo de jogo para uma equipe.

CONSEQUÊNCIAS DA RELAÇÃO ESPAÇO-JOGADOR-BOLA

A cada milissegundo de um jogo, um jogador está tomando decisões em torno dessas três variáveis. Estando com ou sem a posse da bola, ele é um individuo possuidor de funções, que pertence a um um conjunto equipe e suas decisões nesse "tempo microscópico" afetam a ocupação do espaço. Lembra mais ou menos a analogia do organismo humano, onde cada célula possui extrema importância para o funcionamento ideal do corpo. A ideia da definição de um modelo de jogo é fazer com que cada unidade dinâmica jogador tome decisões que possuam encaixe lógico na ocupação do sistema dinâmico equipe no campo.

Com o tempo, as diversas relações obtidas entre jogador, bola e espaço ajudaram a alguns pensadores a moldar referencias físicas no próprio espaço para nortear a ocupação do mesmo para cada momento do jogo. Muitas padronizações de comportamento por parte da tática são realizadas em torno dessas referencias. Vamos a elas:  (Quem quiser revisar as 4 fases, recomendo ler a esse texto do ótimo Valter Correia do site Teoria do Futebol.)

1) Organização Ofensiva

Amplitude: É o espaço em largura ocupado por uma equipe quando está com a posse de bola. Um time consegue manter mais facilmente a posse de bola se posiciona-se mais aberto no campo. Quanto mais amplo a ocupação, mais difícil é de se marcar aos 11 indivíduos adversários simultaneamente.

Espaço intra-linhas: São os espaços gerados entre jogadores de uma mesma linha. Pode ser consequência de um bom posicionamento em amplitude da equipe com a posse, atraindo jogadores rivais para espaços mais externos no campo.

Os círculos em amarelo mostram os espaços intra-linhas e os jogadores circulados em preto mostram a boa ocupação em amplitude nesse quadro.

Se formos pensar que as balizas, metas principais do jogo, ficam no centro, um bom posicionamento em amplitude ajuda a despovoar os caminhos mais curtos para se chegar ao gol rival. Gerar espaços entre indivíduos de uma mesma linha ajuda também no fato de que o receptor de um passe na determinada região terá mais tempo para tomar a ação seguinte, o que facilita na fluência de um ataque. Quanto mais fácil o jogo fica para meus jogadores poderem criar, melhor para a minha equipe. Vejamos na prática:

Observe o grande espaço entre o lateral rival, que veio marcar Suelliton, bem posicionado em amplitude e o zagueiro direito. Região a se explorar com infiltrações! 
Fonte: Blog do André Rocha/Imagem de Caio Gondo

Lado forte e lado fraco: Quando uma equipe está com a bola em um dos lados do campo, o rival tende a concentrar e fazer a sua equipe pender para o lado da bola. O lado da bola, que estará mais denso, é o lado forte, e o lado oposto da bola é o lado fraco. Pep Guardiola é um que ama esse conceito e adora explorar isso em suas equipes. Observe na imagem feita pelo ótimo Léo Miranda, do blog Painel Tático: 

Nessa imagem fica claro a ocupação chilena do lado forte com 7 jogadores e um jogador no lado fraco, Albornoz. Fonte: Painel Tático/Globoesporte.com

Profundidade ofensiva: É o espaço que a equipe que ataca usa na direção do gol adversário. Uma equipe afunda um bem um rival em seu campo se utilizando desse conceito. Um atacante com boa colocação consegue explorar bem esse conceito fazendo movimentações no sentido de "romper" a linha de defesa rival para ficar cara a cara com o goleiro. Essa ocupação é limitada pela linha do impedimento, que se o jogador que receber a bola estiver posicionado no momento do passe somente entre ele e o goleiro, a jogada é invalidada.

Circulado de preto, o último jogador da equipe com a posse de bola antes do gol adversário. Ele quem dá a profundidade da equipe. Em amarelo, o espaço entre linhas do time da defesa.

Espaço entre linhas: É o espaço entre duas linhas adjacentes de uma equipe. Uma boa colocação em profundidade, com um atacante inteligente arrastando defensores da ultima linha para trás ajuda a gerar esse espaço entre as linhas rivais. Um jogador com qualidade que receba sem pressão nesse espaço pode ser letal! Observe uma boa aplicação abaixo, no jogo entre Chile e Equador. Esse lance resultou em uma finalização perigosa:

Observe na imagem acima o generoso espaço entre linhas do Equador, que foi gerado por um movimento de "ruptura" de Sanchez, que nao aparece na imagem.

Compactação Ofensiva: É a distancia vertical entre o primeiro jogador da equipe com a posse (ultimo homem da defesa) e o último (normalmente o atacante). Uma equipe que ataca mais junto (compactado) oferece uma melhor cobertura para o jogador com a bola, dando mais linhas de passe de retorno e de progressão. É muito importante que a linha de defesa suba quando a equipe está com a bola para poder participar junto do precesso de organização ofensiva. Além disso, um time menos espaçado tende a ceder menos espaços quando a perde, conseguindo exercer melhor um pressing para recuperar a redonda, já que teremos mais jogadores próximos a região da perda. Esse video bem antigo da Universidade do Futebol ajuda a ilustrar isso:

Fonte: Universidade do Futebol

Densidade Ofensiva: É a quantidade de jogadores de ataque numa região a ser definida no campo. Esse conceito ajuda muito a visualizar em que regiões uma equipe busca fazer superioridade numérica num rival e em que regiões ela despovoa mais. Sempre lembrando que uma região em superioridade numérica é igual a outra em inferioridade. Uma boa equipe sabe exatamente quando deixar regiões mais ou menos povoadas de acordo o posicionamento da bola e do rival. Observe:

Na região circular da imagem, temos uma situação de 4 x 3 no lado. Com superioridade numérica em regiões proximas a bola, fica mais facil de se progredir e manter a bola sobre o domínio de quem está com ela. Foto: doentesporfutebol.com.br

Esses conceitos espaciais norteiam a ocupação de uma equipe no ataque. A combinação deles, explorando os defeitos do adversário no domínio do terreno, provocando abertura de buracos nas linhas rivais ajuda a fazer um ataque mais fluido e facilita a circulação da pelota. Próximo post, eu falo sobre as referencias espaciais no momento de Organização Defensiva. Abração!


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

VASCO ATROPELOU O FREGUES E MERECIA MAIS!

No primeiro clássico carioca do ano, o Vasco foi amplamente superior e venceu o Fluminense com gol de Luan, de pênalti. A equipe comandada por Cristóvão Borges jogou muito mal e, com a derrota, caiu para quinto lugar na tabela de classificação. Já a equipe cruzmaltina terminou a rodada em quarto.

Digamos que tenha sido a primeira GRANDE atuação cruzmaltina no ano em um jogo válido para se dizer como teste. Desde o início, o Vasco controlou as ações do jogo, dominando territorialmente e estrategicamente o adversário. Explicaremos como ocorreu esse domínio abaixo:

Desenho das equipes. Critério de posicionamento para auxiliar a compreensão do texto

O Fluminense veio a campo no tradicional 4-2-3-1 com a bola, com Jean e Édson na contenção da zaga, tentando organizar a saída de bola tricolor. A linha de três meias era formada por Vinícius centralizado, Marlone pelo lado esquerdo e Lucas Gomes pelo flanco direito. Fred era a referência no ataque. Sem a pelota, a equipe tricolor se organizava no 4-1-4-1, com Édson no entre-linhas, dando cobertura para a zaga. Jean se juntava a linha de meias que formaria com Vinícius, Marlone e Lucas Gomes. O Flu marcava em blocos baixos, era desorganizado e dava muitos espaços.

O Vasco veio notavelmente diferente dos jogos anteriores. Inicialmente estruturado no já visto 4-2-3-1, Doriva mudou um pouco o estilo da equipe. Sem Bernardo e Montoya, que desde o inicio da temporada vinham sendo escolhidos para serem os meias pelos lados, Doriva optou por um mais cadenciado Julio dos Santos pela direita e um mais agudo Rafael Silva na esquerda. E foram essas escolhas que ajudaram e muito no resultado positivo do jogo.

Um dos grandes problemas que a equipe mostrava nos jogos anteriores era a falta de criatividade e fluência nos momentos de organização ofensiva. A escolha por dois volantes pouco criativos e muito contidos (Serginho e Guinazu), somado a uma linha de 3 (Bernardo-Marcinho-Montoya) que possuía uma interação fraca (muito estática, com muitos erros na hora de decidir por passe/condução) e um atacante que pouco conseguia prender a linha defensiva (Rafael Silva) atrapalhava o jogo cruzmaltino. So que com os desfalques a coisa mudou.

A escolha por posicionar o paraguaio Julio dos Santos aberto a direita fez-se questionar o que o treinador queria com isso, já que era um jogador de "teórica" pouca dinâmica para a função. Provou-se totalmente o contrário. Inicialmente aberto, recuava para receber livre, confundia Giovani, que não sabia se o perseguia ou se ficava fixo a linha defensiva e abria espaços para que Madson viesse de trás ou então Marcinho pudesse aprofundar por ali, acionando-os na ultrapassagem. Condicionou o jogo vascaíno, temporizando as ações, alternando passes curtos com bolas longas nas costas do lateral esquerdo tricolor. Foi o jogador vascaíno que mais tempo ficou com a posse além dos zagueiros. Vejamos:

Quatro flagrantes de movimentação do Julio mais recuado abrindo vácuo para apoio de Madson

Ja nesse frame, um flagrante melhor. Julio dominando a saída pela direita, Madson aprofundando como ponta e Marcinho interior. Entrada de Julio facilitou o jogo de ataque ao espaço de Marcinho

Ja nos heatmaps acima, observe como Julio conseguiu condicionar o jogo de sua equipe. Compare o mapa de calor coletivo da equipe cruzmaltina (a esquerda) com o individual de Julio dos Santos (a direita). Bola circulando muito mais pelo seu setor. 

Já Rafael Silva á esquerda mais agudo foi uma outra boa cartada de Doriva. Sabendo que Yago, teórico substituto, possui notáveis dificuldades de recomposição, o treinador apostou em seu pupilo dos tempos de Ituano para aprofundar as ações por ali, encostar em Gilberto e Marcinho e perseguir individualmente/prender o apoio de Wellington Silva, lateral direito tricolor que vinha se destacando por ser bem agudo no ataque. Com isso, mais um ponto positivo para Doriva: Julio posicionado mais recuado a direita facilitava as transições defensivas quando alguém perdia a bola pelo lado esquerdo, já que com isso a linha de meio conseguia bascular forte para o lado da bola sem expor o lado oposto. Observe abaixo:

Julio bem contido a direita próximo aos volantes vascaínos . Ja Rafael, circulado, colado em Wellington Silva vigiando sua movimentação 


No campinho a direita, bola perdida no lado esquerdo, momento de transição defensiva. Linha de meio pendula (bascula) intensamente para o lado, com Guinazu fazendo o combate pela esquerda e Julio fecha junto com os volantes, muito devido a seu posicionamento mais recuado por ali. Observe no heatmap de Guinazu (direita) também o quanto ele participou pelo lado esquerdo!

Não podemos nos esquecer do estreante Gilberto, que entrou na frente exatamente no lugar que Rafael deixou, muito bem. Sabendo reter o central do lado que a pelota se encontrava, descaindo mais pela direita quando saía da área (natural pelo vácuo deixado por Julio dos Santos), acertando no pivô acionando bem quem vinha de trás e atacando as costas da defesa com desmarcações de ruptura. Foi inclusive num lance de movimentação assim que o juiz não marcou pênalti claro de Cavalieri em cima dele no primeiro tempo.

Mudanças a parte, o jogo se desenrolou com o Flu buscando o contragolpe e o Vasco partindo pra cima, propondo o jogo com qualidade. Até os 30’ da primeira etapa, o Vasco criou mais, teve mais posse de bola (52% a 48%), mais objetividade e intensidade. O Flu tinha dificuldades para sair jogando, tentando sair em contra-ataques. A marcação era muito frouxa, com muitos espaços para circulação livre do sistema ofensivo vascaíno.  Após a parada técnica e até os 30’, o Flu começou a sair um pouco, com muita lentidão e apoio dos laterais, um pouco com as ultrapassagens de Wellington Silva (muito mal no jogo) e Giovanni (também muito mal na partida). O Flu errava muitos passes na saída de bola e era muito desorganizado na fase defensiva. A transição ofensiva era lenta. O Vasco acertou 216 passes, enquanto o Flu só 197, com 43 erros. Os cruzmaltinos erraram 25.

O domínio da posse de bola também pode se explicar por números alem da porcentagem. Com Julio mais recuado e participando ativamente das ações centrais do jogo vascaíno, o Vasco ganhava o meio com uma superioridade de 4 (Julio, Serginho, Guinazu e Marcinho) x 3 (Edson, Jean e Vinicius). Os pontas tricolores tiveram pouca percepção de quando centralizar para ajudar a preencher o meio campo. Na esquerda, Giovani-Vinicius-Marlone no primeiro tempo ficaram perdidos defensivamente, já que a movimentação Julio abrindo espaço-Madson aprofundando como ponta foi difícil de ser entendida.

Flagrante de 3 x 2 na zona de criação do meio campo

Nos minutos finais da etapa inicial, o duelo ficou quente. Muitas faltas duras e entradas ríspidas. O juiz Luiz Antonio dos Santos ficou confuso e perdeu o controle da partida. O primeiro tempo acabou com um Fluminense sem profundidade nenhuma nas ações ofensivas e muito acuado pela equipe do Vasco. O pouco apoio dos laterais Wellington Silva e Giovani e o sumiço dos pontas Marlone e Lucas Gomes ajudou e muito para que o Vasco conseguisse ficar bem equilibrado defensivamente, nas suas já tão vistas duas linhas de quatro. Até por isso, Cristóvão logo tirou o segundo no intervalo para a entrada do garoto Gerson.


Linhas de quatro bem definidas, com Julio pela direita e Rafael pela esquerda

Já no segundo tempo, a equipe vascaína voltou ainda mais pilhada. Marcando mais forte a frente, buscava sufocar o tricolor ainda mais fundo no seu campo, o que era de certa forma bom e ajudou ainda mais no domínio com muitas roubadas de bola, mas gerava espaços. Wellington Silva até conseguiu encontrar alguma coisa no inicinho, mas foi pouquíssimo efetivo quando encontrou espaço. O Flu, que tinha como arma o apoio dos laterais, em péssima noite, não acertou nenhum cruzamento. A entrada de Kenedy no lugar de Marlone, deslocando Vinicius para a posiçao foi para tentar explorar as costas de Madson no apoio agudo por ali, porém elas estavam muito bem ocupadas por Serginho e Luan.

Heatmap de Madson mostrando a incisividade de seu apoio no lado direito. Durante a semana foi testado como ponta, enquanto Serginho se deslocava para a lateral direita e Julio virava o volante por ali. Estaria Doriva já pensando nesse movimento?

Heatmap de Luan (a esquerda) e Serginho (a direita), mostram como as costas do lateral/ponta direito Madson foram bem ocupadas

O jogo começou a ficar mais pegado do que já estava. O Fluminense apostava em lançamentos, mas teve pouco índice de acerto (16 certos para 22 erros, 42% de aproveitamento) As duas bolas na trave, vindas de bola parada, eram reflexo do numero volumoso de faltas do tricolor e consequência do bom trabalho ofensivo vascaíno. A mesma pegada possuía o Vasco, que correu risco de perder Guinazu expulso. Numa dividida com Wellington Silva, o lateral se deu mal e teve que sair para a entrada de Rafinha. Jean foi deslocado para ao seu posto

Vendo isso, Doriva logo colocou o veloz e arisco Yago no lugar de Rafael Silva para incomodar ainda mais o improvisado volante tricolor por ali. E deu certo. O jogo do Vasco passou a ser pelo lado esquerdo no final do jogo. Para reforçar ainda mais o jogo por ali, colocou John Cley no lugar de Marcinho, e instigou passes nas costas de Jean. Foi inclusive numa bola dessas que saiu a sequencia de escanteios que originou o penalti, que Luan converteu e deu a vitória pro cruzmaltino.


Após o gol, Vasco baixou as linhas e buscou os contragolpes com o trio da base. Flu tentou empatar no abafa, mas não surtiu efeito. Com apenas duas finalizações no gol, o Flu não incomodou o Vasco no primeiro clássico do ano. Ficou barato. O Vasco finalizou 5 vezes certas e aproveitou bem os espaços deixados pela equipe tricolor. Méritos do planejamento de Doriva, que ganhou em Julio dos Santos talvez, a peça que faltava para encaixar o meio até então pouco produtivo.

Fontes dos heatmaps e dos dados estatisticos: Footstats

Por Gabriel Daiha em conjunto com Daniel Barud




quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A ESTREIA NO CARIOCA

Após duas derrotas seguidas para Flamengo e Sao Paulo no torneio de Manaus, Vasco viria para fazer sua estreia no Campeonato Carioca contra uma Cabofriense que já havia dado trabalho no ano anterior. Apesar dos resultados negativos, a equipe, ainda em formação após as diversas modificações ocorridas, mostrou ter um padrão tático e "vendeu caro" os seus jogos. Placares magros de 1 a 0 e 2 a 1, com diversos momentos de superioridade nos jogos foram a tônica dos jogos no norte do país.

Para o jogo da estreia, Doriva fez duas mudanças na equipe sem alterar a sua estrutura: 4-2-3-1, dessa vez com Madson na lateral direita e Serginho no meio ao lado de Lucas, nos lugares do improvisado Jean Patrick e de Sandro Silva, que não vinha bem. Mudanças prudentes que adicionaram e muito a equipe.

Estruturalmente, ambas jogavam de modo semelhante, mas com posturas COMPLETAMENTE diferentes.

Após uma rápida tentativa inicial de finalização da Cabofriense, sem perigo, Vasco passou a ter completo domínio territorial do jogo. Sufocava o adversário no campo deles, avançava suas linhas sem medo (ponto para Doriva que conseguiu acertar isso dos jogos de Manaus) e não deixava o time deles sair para tentar algo. A equipe opositora ficou exatos 10 minutos sem conseguir sair do próprio campo. Quando os vascaínos perdiam a bola, reagiam rápido, mudavam a mentalidade coletiva para recuperar a bola e logo tinham dois-três homens para tentar roubá-la. O jeito "caçador" da equipe foi uma coisa que se destacou e muito no jogo de domingo. Partidaça da dupla Serginho e Lucas!

Observe nos dois frames acima o posicionamento dos últimos defensores vascaínos na linha de meio de campo. Isso facilita que a pelota seja roubada mais a frente.

Ja nesse quarteto de frames, momentos de perda da posse que o Vasco rapidamente conseguia juntar muitos homens para reduzir o campo de ação do adversário tanto em espaço, como em tempo. Essa ação coletiva é denominada "pressing".

Pressing esse que tinha suas características bem definidas. Realizava-se na intermediária avançada, e de preferencia numa zona lateral, onde poderiam sufocar o adversário com facilidade devido a delimitacao do campo. Os jogadores se posicionavam inicialmente de modo a preencher o território central do campo para poder forçar que a saída adversária fosse pelo lado e quando o mesmo caía nessa armadilha em sair por ali, apertavam a marcação, negando todas as possíveis opções de passe rivais e pressionando o portador da bola. Os exemplos já dados acima e o abaixo pode mostrar isso bem!

Bernardo pressiona o portador que se encontra com a bola na lateral e os jogadores mais próximos anulam rapidamente as opções de passe mais prováveis. A linha lateral também auxilia e muito nesse momento, pois sufoca naturalmente o jogador rival.

Observe também o mapa de calor dos volantes e zagueiros vascaínos. Curiosamente, uma alta intensidade nos lados, onde se localizavam as armadilhas cruzmaltinas. Muitos desarmes e bolas recuperadas por ali por Rodrigo e Lucas na esquerda e Luan e Serginho pela direita. Bom recurso!

A equipe dominava o território, mas mostrava pouco poder de criação/finalização. O trio de meias (Bernardo, Montoya e Marcinho) centralizava para poder interagir, seja trocando passes, seja trocando posições, se movendo, mas pecavam na hora de decidir. A falta de entrosamento aliada a qualidade nas decisões um tanto duvidosas por parte dos dois primeiros embolou a meiuca e fez o time criar pouco. O último passe não entrava ou então os jogadores davam um drible a mais matando boas oportunidades de jogo. 


Acima, Montoya está com a bola e Madson faz a ultrapassagem. Teria muito espaço para poder cruzar em perigo ao gol adversário. Preferiu passar por dentro para Rafael, totalmente marcado. DECISÃO EQUIVOCADA!

Ja nessa sequencia de frames, Bernardo com bom espaço para decidir tem um Christiano subindo sem nenhuma oposição a frente. Bernardo preferiu o passe nas costas da defesa para Rafael, que tinha bem menos angulo (já que é destro) e ainda por cima estava impedido. DECISÃO EQUIVOCADA!

Esses dois frames acima também revelam uma arma que o Vasco pelo visto terá para esse ano: os laterais. Madson e Christiano apoiaram muito (mais um ponto para Doriva, laterais estavam muito presos em Manaus), dando profundidade pelos lados, fazendo ultrapassagens tanto por dentro como por fora. Além de ajudarem e muito a dar amplitude necessária a equipe, participavam ativamente dos contra-ataques. Com a ajuda dos meias abertos fixando os laterais por dentro (observe primeiro frame abaixo), eles ganhavam espaço para poder avançar e subir com tranquilidade.

Muito espaco para Christiano subir com tranquilidade

Jogada que poderia se repetir com mais frequência e que foi cantada aqui no blog antes: Montoya sai de dentro para fora arrastando o volante e abre espaço para apoio interior do lateral, no caso Christiano, que tem boa finalização. Chute dele trouxe perigo nesse lance

O primeiro tempo terminou com um Vasco sem sofrer dano algum, porem sem ameaçar tanto ao gol do rival. Os mapas de calor das equipes mostravam uma abissal ocupação do campo ofensivo por parte da equipe cruzmaltina (veja abaixo), que se superiorizava no numero de finalizações (10 a 3) e na posse de bola (57%). Para o segundo tempo, a equipe ja voltou com uma postura diferente.

Cabofriense afundada em seu campo defensivo com o ponto mais quente dentro da própria área


Vendo que precisava ser mais objetiva para chegar ao gol, a equipe cruzmaltina passou a ser mais rápida ainda. Buscou marcar ainda mais forte nos lados e ter mais chegada. Lucas passou a subir mais para apoiar os ataques e os meias abertos passaram a se movimentar mais. Foi assim que saiu o gol de Bernardo aos 7 minutos. Iniciação do ataque rival direcionado para a lateral, armadilha montada, roubada de bola de Montoya, busca da diagonal e passe mortal para Bernardo finalizar no outro lado. Um 1 a 0 ate o momento muito merecido. Siga os frames:

Rival direcionado para o lado, bola roubada, busca pelo centro para achar o lado débil da defesa. GOL!

Gol feito, Cabofriense reagiu com mudanças. Colocou o time mais para frente, tirando o volante Everton para colocar Gilcimar, atacante de área e tirou Jones para colocar Caca, meia veloz que entrou bem. Time se reorganizou num 4-3-1-2 bem diferente do inicial. Inicialmente a mudança surtiu pouco efeito, com o Vasco ainda sufocando muito o rival em seu próprio campo e ainda ameaçando em um contragolpe que quase saiu em gol com Rafael Silva.

So que na parada técnica, duas mudanças facilitaram a vida do time pequeno da Região dos Lagos: a entrada de Teti no lugar do lateral Amaral e a entrada de Yago no lugar de Montoya. Com isso, o meia Caca que tinha acabado de entrar foi jogar nas costas de Madson na direita e Arthur foi improvisado na lateral. Soma-se isso a entrada de um jogador com notáveis dificuldades de recompor pelo lado direito (Yago), criou-se uma mina de ouro para se explorar. A Cabofriense passou a explorar essa debilidade e trouxe perigo!

Repetir 4 vezes a demora para auxiliar na recomposição não pode. Isso trouxe muitos problemas e diversos 2 x 1 no nosso lado direito defensivo. Tem que trabalhar o garoto!

Mesmo que a ideia do treinador fosse a de abusar da velocidade do garoto da base vascaína, ela deveria ter sido feita com mais cuidado. Precisou-se fazer duas novas alterações para compensar a situação: colocou John Cley, mais responsável defensivamente, no lugar de um Bernardo cansado, e prendeu Jean Patrick na direita no lugar do também cansado Madson. Os contragolpes vascaínos continuaram ameaçando, como aconteceram nos lances em que John Cley e o próprio Yago perderam gols, mas isso expôs a equipe num momento onde se exigia cautela.

Demora de Yago trazia inferioridade numérica na direita

O segundo gol saiu tambem num contra-ataque, puxado por Serginho, chegando em John Cley, virada para Jean Patrick ajeitar para Marcinho bater. A bola desviou e enganou o goleiro, matando o jogo!

Vasco mostrou muitas virtudes, uma marcação muito interessante e acima de tudo, uma mentalidade muito guerreira na luta pela bola. Mantendo isso e aprimorando os defeitos, principalmente acertando essa linha de três meias quando estamos com a posse, que errou MUITO, poderemos ter bons frutos! 

OBS: Quinta tem caldeirão, e dia de jogo no caldeirão eh dia de analise com fotos direto do estadio. Vascoooo!




sábado, 24 de janeiro de 2015

O VASCO NO SUPERSERIES - O DUELO CONTRA OS MULAMBOS

Um time novo, recém formado, com muitas novidades, um treinador novo e qual o primeiro desafio imposto a ele? SIMM! Um jogo contra o maior rival, mais estruturado no aspecto coletivo e mais entrosado. Somando a isso a pressão imposta pela vitoria, por presidente e torcida, num momento em que o desenvolvimento da equipe é mais importante, nada disso poderia ser bom. Mas ate que não foi tao ruim quanto se pensava...

Vejamos. Vasco x Flamengo se enfrentavam em Manaus, numa atmosfera de clássico um tanto pre-matura para o que ambas as equipes poderiam oferecer. Muita pegada e pouco futebol de qualidade. Venho aqui para analisar como a equipe do Vasco se mostrou, o que Doriva pareceu pensar e minhas primeiras impressões desse Vasco de 2015.

Ambas as equipes se postaram com uma ESTRUTURA TÁTICA (as "linhas de ônibus") parecidas: dois 4-2-3-1, com propostas ate semelhantes, mas com notáveis diferenças em suas dinâmicas. Veja abaixo:

4-2-3-1 em ambos os lados: Vasco e Flamengo buscando acelerar nos contra-ataques e muitas dificuldades de ambos os times para para-los

O jogo começou ate bem intenso, pouco natural para um jogo de pre-temporada. Vasco prendia mais seus laterais e buscava com seu trio de meias acelerar o ritmo quando roubava a bola. Pressionava a saída de bola rubro-negra bem em cima com o quarteto de frente. Bernardo era o jogador mais buscado na esquerda e puxava sempre descair para o meio com a bola, mas a notável falta de entrosamento entre ele, Marcinho, Montoya e Rafael Silva fizeram o jogo do Vasco ficar travado quando tinha a bola no pé. Dependia e muito do espaço que o Flamengo dava quando tentava atacar e mesmo assim muitas vezes as decisões tomadas pelo quarteto não eram as melhores. Natural para um time em formação.

Tabela do Vasco no meio, espaço da lateral aberto para subida e Jean Patrick preferiu ficar mais atras. Observe em amarelo que, se tivesse se projetado a frente, teria muito tempo e tranquilidade pra decidir o que fazer.

Passados vinte minutos muito mais de marcação e tentativas de puxar contra-ataque por ambas as equipes, o Vasco resolveu tentar ganhar campo. Botou a bola no chão e subiu ainda mais a marcação da linha de frente. Tentou combinar entre seus atacantes, mas parava na falta de entrosamento e nos erros de passe na intermediaria avançada. Perdeu Guinazu, lesionado e colocou Lucas para estrear, jogador de menos pegada, porem de bom passe. Chegou a ter chance clara perdida, num contra-ataque rápido que pegou a defesa mulamba desprevenida e Marcinho desperdiçou para boa defesa do goleiro adversário. Observe a sequencia de frames:

Na ordem de cima-baixo, direita-esquerda: Vasco ataca com volantes, meias e atacante. Busca Bernardo, que corta para o meio. Nisso, Lucas ataca espaço a frente e arrasta o marcador rival, abrindo clarão para o passe mortal para Marcinho, que perde gol claro.

So que sofria na velocidade do contra-ataque rubro-negro. Os volantes ficavam muito atras, pouco contribuíam para manter a posse de bola e davam espaço para que as transições flamenguistas pudessem fluir pelo centro. Quando a linha de frente subia e marcava pressão na saída adversaria, Lucas e Sandro não acompanhavam e deixavam um amplo espaço para o Flamengo subir com tranquilidade pelo setor. Os laterais, quando raramente atacavam, não tinham a cobertura devida pela linha de defesa, que ficava muito atras devido a esse posicionamento fundo dos volantes. Doriva inclusive percebeu isso na coletiva pós-jogo, com razão:

"No primeiro tempo, tivemos uma postura importante, uma compactação na zona intermediária. Temos que ter um pouco mais de força para adiantar as linhas, marcar mais adiantado. Perdendo a partida, até queríamos isso, mas faltava força." - Doriva

Frames flagrando o espaço que os volantes e a linha de defesa davam por erros de posicionamento. Ultima linha tem que acompanhar subida do time quando pressiona!

Quando se organizava defensivamente e se postava firme atras, fechava duas linhas de quatro bem compactas, como Doriva disse em sua citação, deixando mais a frente Marcinho um pouco mais recuado do que Rafael Silva, que garantia a profundidade da equipe. Roubava a bola, buscava a dupla mais avançada e esperava as chegadas de Bernardo e Montoya pelos lados. Em muitos momentos ate mostraram ter assimilado bem essa ideia, mas ainda precisa de muitos ajustes.

Rafael fica mais a frente e participa pouco da marcação da equipe. Quando o time rouba a bola, busca ele e espera chegada dos meias

So que também quando conseguia estruturar-se defensivamente, a equipe mostrava problemas de posicionamento. A dupla de volantes se mostrou em muitos momentos com dificuldades de ocupar o espaço da maneira correta. Num sistema de duas linhas de quatro, se os dois do meio da segunda linha se posicionam mal, o meio fica escancarado e os zagueiros tendem a ficar perdidos. Observem:

Nesse primeiro flagrante, fica claro o espaço na região central. Lucas deveria fechar mais pelo meio e  cobrir a região.

No primeiro flagrante, demora para recompor de Lucas e espaço grande no meio (amarelo). No segundo, volantes protegendo demais a zaga e dando espaços vitais (vermelho) ao adversário, que dificultam a pressão na bola.

Outro problema de posicionamento da linha de meio, maior setor-problema aparente para o treinador, foi a dos meias-laterais (Bernardo e Montoya, no caso). Marcar individualmente o lateral tem a vantagem de você anula-lo, porem abre espaços importantes nas costas dos volantes quando eles pressionam em um lado. Muitas vezes, anula-los em uma jogada não serve de nada, já que esses adversários podem sequer ter chances de afetar a situação. Observe:


Vejamos: Em 1, demora de Yago a fechar a segunda linha de 4. Precisa-se de intensidade em todos os momentos de jogo e ele recompôs muito lentamente! Em 2 e em 3, Bernardo (meia-esquerda) esta atraído pelo lateral direito mulambo. So que abre um espaço importantíssimo, marcados pelos círculos e que poderiam ser bem explorados pelo rival. Fechar pelo meio e dar a lateral pro adversário ali seria mais interessante, pois de qualquer jeito, se a bola fosse virada, teria-se tempo para pressiona-lo. Ja em 4, um bom exemplo de como marcar em linha de 4: Montoya fecha pelo centro, anula o espaço e continua tendo acesso ao lateral esquerdo deles, que no momento não importa para a jogada.

Apos um primeiro tempo superior, onde chegou mais ao gol ameaçando nos contra-ataques, o time sentiu um pouco o inicio de temporada. Vendo o desgaste, Doriva baixou as linhas no segundo tempo e esperou o Flamengo chegar. O time teve melhor rendimento defensivo baixando mais as linhas, mas teve muitos problemas em armar os contra-ataques, com um Marcinho ja desgastado e pontas pouco participativos. Tomou um gol em falha individual de Sandro Silva.

Linhas baixas e menos espaços ao adversário. Contra-ataques mais dificultados!

A apatia pós-gol flamenguista me pareceu muito mais devido as condições físicas do que a qualquer outra coisa. Mesmo tentando reoxigenar o time, colocando Marquinhos e Yago nas pontas para abrir o jogo e tentar desequilibrar nos lados, colocando Nei e Henrique no lugar dos cansados laterais, e colocando Julio dos Santos para tentar dar pausa e ordem ao time, a equipe não funcionou. Derrota por 1 a 0, que mostra um pouco a realidade a nosso treinador: MUITA COISA A SE FAZER! Boa sorte, Doriva, porque tu assumiu problema grande!