No futebol, possuímos três variáveis físicas que podemos considerar vitais para o jogo. Duas delas são de caráter dinâmico (a bola e os jogadores) e uma delas é de caráter estático (o campo de jogo). 22 jogadores (10 de linha e 1 no gol para cada lado), uma bola, que fica sob a posse de 1 dos 22 indivíduos e um campo com duas balizas definem um jogo. O texto de hoje refletirá algumas situações que giram em torno da variável estática CAMPO.
O campo de jogo é o espaço onde ocorre a partida de futebol. Ele possui dimensões regulamentadas pela FIFA, padronizando distâncias entre as linhas tradicionais. Na imagem abaixo, temos as dimensões mínimas e máximas que o órgão optou por regimentar:
Outra convenção é a que o espaço na qual vivemos possui três dimensões: comprimento, largura e altura. Para a nossa análise levaremos mais em conta as duas primeiras citadas, já que os jogadores se movem majoritariamente no plano xy (comprimento x largura).
Passadas essas convenções físicas iniciais, vamos ao que interessa: falar de futebol. O espaço de jogo é de extrema importância para o planejamento e tomada de decisão de todos os indivíduos que se envolvem na partida, sejam eles atuantes (os jogadores) ou não-atuantes (os treinadores), já que é nele que as coisas acontecem. É a relação das variáveis físicas (espaço-jogador-bola) com as variáveis não físicas (regras, atmosfera do jogo, etc.) que definem os pontos a serem levados em conta na hora de se moldar um modelo de jogo para uma equipe.
CONSEQUÊNCIAS DA RELAÇÃO ESPAÇO-JOGADOR-BOLA
A cada milissegundo de um jogo, um jogador está tomando decisões em torno dessas três variáveis. Estando com ou sem a posse da bola, ele é um individuo possuidor de funções, que pertence a um um conjunto equipe e suas decisões nesse "tempo microscópico" afetam a ocupação do espaço. Lembra mais ou menos a analogia do organismo humano, onde cada célula possui extrema importância para o funcionamento ideal do corpo. A ideia da definição de um modelo de jogo é fazer com que cada unidade dinâmica jogador tome decisões que possuam encaixe lógico na ocupação do sistema dinâmico equipe no campo.
Com o tempo, as diversas relações obtidas entre jogador, bola e espaço ajudaram a alguns pensadores a moldar referencias físicas no próprio espaço para nortear a ocupação do mesmo para cada momento do jogo. Muitas padronizações de comportamento por parte da tática são realizadas em torno dessas referencias. Vamos a elas: (Quem quiser revisar as 4 fases, recomendo ler a esse texto do ótimo Valter Correia do site Teoria do Futebol.)
1) Organização Ofensiva
Amplitude: É o espaço em largura ocupado por uma equipe quando está com a posse de bola. Um time consegue manter mais facilmente a posse de bola se posiciona-se mais aberto no campo. Quanto mais amplo a ocupação, mais difícil é de se marcar aos 11 indivíduos adversários simultaneamente.
Espaço intra-linhas: São os espaços gerados entre jogadores de uma mesma linha. Pode ser consequência de um bom posicionamento em amplitude da equipe com a posse, atraindo jogadores rivais para espaços mais externos no campo.
Os círculos em amarelo mostram os espaços intra-linhas e os jogadores circulados em preto mostram a boa ocupação em amplitude nesse quadro.
Se formos pensar que as balizas, metas principais do jogo, ficam no centro, um bom posicionamento em amplitude ajuda a despovoar os caminhos mais curtos para se chegar ao gol rival. Gerar espaços entre indivíduos de uma mesma linha ajuda também no fato de que o receptor de um passe na determinada região terá mais tempo para tomar a ação seguinte, o que facilita na fluência de um ataque. Quanto mais fácil o jogo fica para meus jogadores poderem criar, melhor para a minha equipe. Vejamos na prática:
Observe o grande espaço entre o lateral rival, que veio marcar Suelliton, bem posicionado em amplitude e o zagueiro direito. Região a se explorar com infiltrações!
Fonte: Blog do André Rocha/Imagem de Caio Gondo
Lado forte e lado fraco: Quando uma equipe está com a bola em um dos lados do campo, o rival tende a concentrar e fazer a sua equipe pender para o lado da bola. O lado da bola, que estará mais denso, é o lado forte, e o lado oposto da bola é o lado fraco. Pep Guardiola é um que ama esse conceito e adora explorar isso em suas equipes. Observe na imagem feita pelo ótimo Léo Miranda, do blog Painel Tático:
Nessa imagem fica claro a ocupação chilena do lado forte com 7 jogadores e um jogador no lado fraco, Albornoz. Fonte: Painel Tático/Globoesporte.com
Profundidade ofensiva: É o espaço que a equipe que ataca usa na direção do gol adversário. Uma equipe afunda um bem um rival em seu campo se utilizando desse conceito. Um atacante com boa colocação consegue explorar bem esse conceito fazendo movimentações no sentido de "romper" a linha de defesa rival para ficar cara a cara com o goleiro. Essa ocupação é limitada pela linha do impedimento, que se o jogador que receber a bola estiver posicionado no momento do passe somente entre ele e o goleiro, a jogada é invalidada.
Circulado de preto, o último jogador da equipe com a posse de bola antes do gol adversário. Ele quem dá a profundidade da equipe. Em amarelo, o espaço entre linhas do time da defesa.
Espaço entre linhas: É o espaço entre duas linhas adjacentes de uma equipe. Uma boa colocação em profundidade, com um atacante inteligente arrastando defensores da ultima linha para trás ajuda a gerar esse espaço entre as linhas rivais. Um jogador com qualidade que receba sem pressão nesse espaço pode ser letal! Observe uma boa aplicação abaixo, no jogo entre Chile e Equador. Esse lance resultou em uma finalização perigosa:
Observe na imagem acima o generoso espaço entre linhas do Equador, que foi gerado por um movimento de "ruptura" de Sanchez, que nao aparece na imagem.
Compactação Ofensiva: É a distancia vertical entre o primeiro jogador da equipe com a posse (ultimo homem da defesa) e o último (normalmente o atacante). Uma equipe que ataca mais junto (compactado) oferece uma melhor cobertura para o jogador com a bola, dando mais linhas de passe de retorno e de progressão. É muito importante que a linha de defesa suba quando a equipe está com a bola para poder participar junto do precesso de organização ofensiva. Além disso, um time menos espaçado tende a ceder menos espaços quando a perde, conseguindo exercer melhor um pressing para recuperar a redonda, já que teremos mais jogadores próximos a região da perda. Esse video bem antigo da Universidade do Futebol ajuda a ilustrar isso:
Fonte: Universidade do Futebol
Densidade Ofensiva: É a quantidade de jogadores de ataque numa região a ser definida no campo. Esse conceito ajuda muito a visualizar em que regiões uma equipe busca fazer superioridade numérica num rival e em que regiões ela despovoa mais. Sempre lembrando que uma região em superioridade numérica é igual a outra em inferioridade. Uma boa equipe sabe exatamente quando deixar regiões mais ou menos povoadas de acordo o posicionamento da bola e do rival. Observe:
Na região circular da imagem, temos uma situação de 4 x 3 no lado. Com superioridade numérica em regiões proximas a bola, fica mais facil de se progredir e manter a bola sobre o domínio de quem está com ela. Foto: doentesporfutebol.com.br
Esses conceitos espaciais norteiam a ocupação de uma equipe no ataque. A combinação deles, explorando os defeitos do adversário no domínio do terreno, provocando abertura de buracos nas linhas rivais ajuda a fazer um ataque mais fluido e facilita a circulação da pelota. Próximo post, eu falo sobre as referencias espaciais no momento de Organização Defensiva. Abração!
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