domingo, 22 de dezembro de 2013

ANALISE COMPLETA: O CHILE DE DON SAMPAOLI


PARTE 5 (1): O MODELO DE JOGO CHILENO


          Nessa ultima parte da serie Chile, explicarei o modelo de jogo da seleção chilena. Tendo em vista que a explicação de um modelo é muito complexa e demandaria muitos posts, aqui fica um resumo do mais importante. Mesmo assim, achei que conseguiria fazer em um post, mas pelo visto terei que fazer em dois para que não fique muito longo e cansativo.

         Para todo MODELO de jogo (jeito de jogar de uma equipe) há padrões de comportamento INDIVIDUAIS (que os jogador deve assimilar) e COLETIVOS (que a equipe deve assimilar). No decorrer desse post, vocês perceberão o quanto esses PRINCÍPIOS norteiam o jogo da equipe. 

1) SISTEMAS TÁTICOS FAVORITOS

        A definição de sistema tático se dá naqueles numerosinhos tão ditos pelos jornalistas e pelas pessoas quando vão tentar debater sobre essa área. Mas esses números em si, não explicam nada. Na seleção de Sampaoli, 4 foram os sistemas utilizados: os com centroavante (4-2-1-3 e 3-3-1-3) e os sem centroavante (4-3-1-2 e 3-4-1-2). Lembrando que o técnico usa da ideia de escalar a sua defesa sempre com um homem a mais que o ataque adversário, fazendo trocas sempre em função dessa "lei" caso o adversário surpreenda. Esquemas diferentes, porém sempre jogaram com o mesmo ímpeto ofensivo, com o constante uso das laterais e a pressão na saída de bola adversária. Observe abaixo:



2) MODELO DEFENSIVO 

          O modelo de defesa da equipe chilena se pauta numa cadeia de princípios que se ordenam pela seguinte prioridade: recuperar a bola na frente, encaixes de marcação nos jogadores próximos a bola, posicionamento defensivo em bloco alto, garantia da unidade defensiva por compensações com o uso de sobra e por último o uso da defesa organizada. Todos esses realizados com "pressing" (ação coletiva de coagir sobre o portador da bola) sob muita intensidade e garra dos jogadores da defesa chilena:


a) Recuperar a bola na frente

         Uma das características mais notáveis dos times de Sampaoli é o ímpeto que os jogadores da frente tem em tentar recuperar a bola logo no campo adversário. Como o técnico da seleção Espanhola Vicente del Bosque falou após o empate de 2 a 2 no amistoso de setembro, a pressão na saída de bola realizada pelos jogadores chilenos é "quase suicida". Veja abaixo exemplos de momentos que o time tenta a qualquer custo retomar a posse na frente:

4 jogadores tentando retomar a bola do portador

Três da frente pressionando a linha defensiva espanhola para tentar recuperar na frente a bola

b) Encaixes de marcação nos jogadores próximos a bola

           Assim como citei no meu post la atrás sobre a Universidad de Chile que inspirou essa seleção chilena, Sampaoli cobra de seus jogadores o máximo empenho em cerrar as linhas de passe próximas ao jogador que está com a bola. Esse fechamento se dá por marcação individual a esses jogadores próximos (homem como referencia prioritária inicial) e dificulta ainda mais a circulação da bola adversária. Veja abaixo como isso se repete nos prints:

Observe nesse frame como todas as opções de passe de avanço estão fechadas e a única opção de passe viável (a do lado) será pressionada pelo atacante chileno que vem de trás.

Ja nesse print, observe como Rojas sai de sua posição com o objetivo de se esforçar para cerrar a linha de passe de avanço mais próxima. O adversário é a primeira referencia de marcação dos homens de Sampaoli.

c) Posicionamento defensivo em bloco alto

          Para que a recuperação da bola seja feita mais a frente e que as linhas de meio de campo e ataque tenham liberdade para coagir sobre a saída adversária, a defesa precisa atuar bem avançada para que não haja um espaço enorme entre a linha de meio e a de defesa. Para que esse avanço seja possível, é necessário que os jogadores da linha defensiva sejam rápidos, como Medel, Isla, Jara e Mena são, já que tendem a tomar bolas às suas costas, onde se terá um enorme espaço. Abaixo, um belo exemplo de como num rebote de escanteio do Chile, o posicionamento da defesa avançada foi de extrema importância para evitar um contra-ataque uruguaio:




d) Garantia da unidade defensiva por compensações


       Um dos princípios defensivos que norteiam o futebol é o da "Unidade Defensiva". Ele se define pela capacidade que o sistema defensivo tem em agir como um corpo único. Só que o que acontece no caso de defesas que tenham o homem como referencia de marcação é que esse princípio tende a ser levado com menos relevância, o que gera muitos espaços e buracos nas zagas. Para que esse problema fosse evitado, Sampaoli gerou a consciência nos jogadores em que ao ponto que um saísse de sua posição para marcar um adversário individualmente, outro deveria cobrir o espaço deixado por ele, encaixando no adversário que tentasse ocupar esse buraco. Lembrando-se que eles sempre respeitam a regra de que deve-se ter superioridade numérica de no mínimo um em relação ao ataque adversário, a famosa "sobra". Observe como esse comportamento se repete nos frames abaixo:

Nesse frame, Gonzalez saiu para fazer o combate ao centroavante adversário. Com isso, Diaz imediatamente ocupou o seu espaço, fazendo a sobra defensiva.

 Já nesse frame, num tiro de meta adversário, Gonzalez saiu para dar o primeiro combate no ar (padrão de comportamento chileno), Medel ocupou seu espaço na sobra e Isla voltou para encaixar no atacante paraguaio.


e) A fase de defesa organizada


      Enquanto na grande maioria dos times, há a preferencia pela recomposição da equipe, organizar a defesa e depois tentar recuperar a bola, na seleção chilena, tudo ocorre ao contrário. A defesa fica avançada, os jogadores correm atrás da bola para recuperá-la o mais longe possível de seu gol, eles encaixam nos jogadores próximos e é raro de se ver a fase de defesa organizada. Só que ela acontece sim, e quando acontece é muito bem executada. O padrão de comportamento varia de acordo com o número de defensores escalados. Observe:



Na fase de defesa organizada, quando se é escalada uma linha de 4 atrás, o volante do lado ataca a bola (número 8, Vidal), o outro faz a diagonal de cobertura (Diaz) e o jogador do lado oposto (seja ele um ala, um outro volante ou ate um meia) fecha as linhas de passe centrais. Quanto aos laterais, o do lado (Isla) fecha as bolas em progressão próximas a linha lateral e o do lado oposto (Mena) fecha no miolo da zaga. Os jogadores de frente (no caso Sanchez) tentam fechar as possibilidades de passe de recuo.


       
Já quando Sampaoli escala 3, o comportamento da defesa é bem peculiar. Numa tendencia normal, os alas abaixariam e fariam uma linha de 5, o que acontece muitas vezes. Porém constantemente se vê o time defendendo com uma linha de 4 atrás mesmo com o uso de três zagueiros. Esse esquema proporciona essa vantagem: seja lá onde estiver a bola, ele permite que um defensor saia de seu posicionamento para caçar um adversário mais a frente na linha de meio sem gerar espaços as suas costas. Quando cai pelos lados, o ala do lado pega o jogador com a bola e o oposto fecha na linha de defesa. Quando no centro, um dos zagueiros sai para dar o combate e o que estava sobrando cobre seu espaço. 

          Percebe-se que é um sistema, apesar de ousado e muito arriscado, bem assimilado pelos jogadores e que eles cumprem muito bem suas funções. Apesar de eficiente, ainda cede gols por bobeiras, as vezes na saída de bola, muito elaborada, ou então em bolas aéreas, já que possuem defensores de baixa estatura. Na outra metade do post, a última da série, explicarei o modelo ofensivo desse Chile de maneira também detalhada. Se bobear faço ainda hoje, no mais tardar amanhã. Abraços e boa leitura!

           

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